Bico de papagaio afeta entre 70 e 80% da população com mais de 65 anos

21 de dezembro de 2017 | 1 comentário | Categoria(s): bico de papagaio

Bico de papagaio afeta coluna e demais articulações do corpo. Apesar de não ter cura, a doença é controlável e prevenível.

Com o passar dos anos, as articulações do corpo sofrem um desgaste natural causando instabilidade e uma micromovimentação do segmento da coluna de forma anormal. Os osteófitos, nome científico do bico de papagaio, são como uma defesa do organismo, que busca absorver a sobrecarga sobre as articulações e estabilizar a coluna vertebral

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a artrose é a causa por trás de entre 30 e 40% dos atendimentos em ambulatórios da área no país. Estima-se que haja mais de 10 milhões de diagnosticados com a doença em todo o Brasil, que se apresenta principalmente entre indivíduos com mais de 55 anos.

Entretanto, a artrose não se manifesta de uma única maneira. Um de seus desdobramentos é a osteofitose, popularmente conhecida como bico de papagaio.

O que é o bico de papagaio?

bico de papagaio é o nome que a população atribuiu a uma condição chamada osteofitose. Ela se caracteriza pela desidratação e consequente desgaste dos discos intervertebrais. Essas estruturas, localizadas entre as vértebras, têm como função amenizar o impacto que as atividades cotidianas causam sobre a coluna.

O corpo reage a esse processo promovendo o surgimento de crescimentos ósseos anormais próximos à estrutura comprometida, em uma tentativa de protegê-la. É o bico de papagaio, que ganhou esse nome devido ao formato desses crescimentos, similares ao do bico desse pássaro.

osteofitose na coluna é, sem dúvida, a mais conhecida. Entretanto, o mesmo processo pode acontecer em outras articulações, como joelhos e pés, devido ao desgaste. O bico de papagaio também pode se desenvolver na coluna cervical, fazendo com que surjam formações na nuca e pescoço.bico de papagaio

Como surge o bico de papagaio?

O bico de papagaio é uma enfermidade ligada à idade: é muito raro que uma pessoa a desenvolva antes dos 40 anos, mas o normal mesmo é que ocorra após os 50. Estima-se que entre 70 e 80% da população com mais de 65 anos seja portadora, sendo que as mulheres são mais afetadas que os homens.

Contudo, fatores ligados ao estilo de vida da pessoa podem fazer com que ela desenvolva a osteofitose antes disso: a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia estima que 20% dos brasileiros na faixa dos 30 anos já a manifesta.

Alguns dos fatores de risco são:

  • O uso de móveis pouco ou nada ergonômicos por períodos prolongados;
  • Má postura;
  • Sobrepeso;
  • Fraturas;
  • Carregar cargas muito pesadas;
  • Sedentarismo.

Todos esses fatores são importantes para o desenvolvimento da doença, mas o sedentarismo se destaca. É muito importante fazer exercícios de fortalecimento muscular, já que, após os 40 anos, a tendência é que o corpo se enfraqueça, favorecendo a doença.

Se o paciente tem histórico familiar, as chances de ele também desenvolver a doença são altas: já há médicos e pesquisadores que afirmam que o fator genético é importante, assim como em muitas outras doenças da coluna.

Felizmente, é possível – e desejável – prevenir. A prática de atividades físicas de baixo impacto, como hidroginástica e natação, o controle do peso, o não consumo de álcool e cigarro e a correção de problemas posturais são fundamentais para isso.

Quais são os sintomas do bico de papagaio?

Entre todos os sintomas do bico de papagaio, os que mais levam as pessoas ao ortopedista são o incômodo causado pelo volume da formação óssea anormal e a dor. Contudo, esta última só se manifesta entre 30 e 50% dos pacientes com sinais de osteofitose.

Além disso, ao contrário do que se imagina, o bico de papagaio causa sintomas em outras regiões além das costas. Braços e pernas também são muito afetados por dor, formigamento, entorpecimento e fraqueza progressiva. Em casos mais raros, pode haver incontinência urinária e intestinal.

Bico de papagaio tem cura?

Infelizmente, o bico de papagaio não tem cura. Entretanto, ela é perfeitamente controlável: quanto mais precoce a detecção, maiores as opções de tratamento para retardar sua progressão.

O diagnóstico acontece por meio de exames, como radiografias, tomografia computadorizada, ressonância magnética e testes eletrocondutores.

Qual é o tratamento disponível para o bico de papagaio?

O tratamento para bico de papagaio tem como objetivo retardar a evolução da doença e aumentar a qualidade de vida do paciente.

Nem sempre há a necessidade de técnicas invasivas: muitos pacientes conseguem bons resultados com fisioterapia e tratamento medicamentoso, com analgésicos e antiinflamatórios. O objetivo desses métodos é diminuir a dor, atenuar o processo inflamatório, recobrar a flexibilidade das regiões afetadas, melhorar a postura e diminuir a compressão sobre os nervos.

Pacientes que não respondem a isso podem tentar a infiltração. Trata-se de injeções epidurais de cortisona, aplicadas diretamente na região afetada. A desvantagem é que o alívio proporcionado é apenas provisório: é preciso tomar novas injeções periodicamente.

A cirurgia, atualmente, é o último recurso. Há algumas décadas era comum que os pacientes recebessem próteses, mas as terapias evoluíram muito e é perfeitamente possível viver sem elas.

O procedimento cirúrgico usado atualmente é a laminectomia. Nela, o médico retira o crescimento ósseo anormal, total ou parcialmente, de modo a aliviar os sintomas. Há relatos de pacientes que, depois de operados, não sentem mais dor alguma.

Contudo, a via cirúrgica não é indicada para todos. Ela é recomendada quando as terapias não invasivas não são efetivas, causando dor impossível de aliviar ou, até mesmo, perda motora.

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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