Como funcionam os enxertos ósseos?

14 de setembro de 2016 | sem comentário

O enxerto ósseo pode ser feito usando osso retirado da própria pessoa ou de outra.

Geralmente os cirurgiões preferem utilizar material retirado do próprio paciente porque, ao mesmo tempo que elimina risco de rejeição, facilita a regeneração óssea. 

O enxerto ósseo pode acrescentar uma ou mais formas de estimulação ou ajuda para um local onde há a necessidade da presença óssea.

Existem 3 principais técnicas de enxerto ósseo:

Estimulação Osteogênica

Como apenas células vivas podem produzir um novo osso, o sucesso de qualquer procedimento de enxerto ósseo depende do fato de haver formação óssea suficiente ou células osteogênicas na área. Em algumas situações, os tecidos saudáveis ao redor do local do enxerto irão conter um número suficiente de células formadoras de ossos. Entretanto, em diversos cenários clínicos, o número de células formadoras de ossos nos tecidos próximos pode ser limitado. Áreas de cicatrização, cirurgia anterior ou infecção, espaços entre ossos e áreas previamente tratadas com radioterapia são provavelmente deficientes de células formadoras de ossos. 

Atualmente, células formadoras de ossos podem ser adicionadas a um local de enxerto a partir de duas fontes. Tradicionalmente, um osso saudável é removido de uma área onde ele provavelmente não cause uma incapacidade, sendo transferido para o local do enxerto. Tem sido mais aceita, recentemente, a transferência de células formadoras de ossos através da utilização de medula óssea, a qual pode ser obtida por uma agulha, sem necessidade de cirurgia. A medula óssea pode ser injetada no local do enxerto ou misturada com outros componentes como um enxerto composto. Tanto o transplante de uma porção óssea de um paciente quanto o transplante apenas da medula óssea, são referidos como autoenxertos ou enxertos ósseos autógenos. Quando a medula óssea ou outros materiais de enxerto são injetados no paciente, define-se o método como sendo enxerto ósseo minimamente invasivo. 

Estimulação Osteocondutora

“Osteo” significa “osso”, osteocondução se refere à capacidade de alguns materiais servirem de armação sobre a qual células ósseas podem se fixar, migrar (significando se mover ou “se arrastar”), crescer e se dividir. Desse modo, a resposta de cura do osso é “conduzida” através do local do enxerto, assim como dizemos que a eletricidade é conduzida através de um fio. As células osteogênicas geralmente trabalham muito melhor quando possuem uma matriz ou armação onde podem se fixar. 

Os materiais osteocondutores facilitam para as células ósseas o preenchimento de todos os espaços entre as extremidades ósseas. Eles também atuam como um espaçador, reduzindo a possibilidade dos tecidos crescerem ao redor do local do enxerto. Os materiais osteocondutores se tornaram uma novidade muito importante em meio às ferramentas disponíveis para o cirurgião ortopedista. Eles não induzem a cura de modo mais eficiente do que a transferência de uma porção óssea do próprio paciente. Na verdade, em muitos casos o desempenho é fraco. Entretanto, quando usados de modo apropriado, esses materiais podem oferecer uma alternativa eficiente para vários pacientes. Isso pode evitar que muitos deles tenham que passar por uma cirurgia extra, necessária para transplantar o seu próprio osso. 

Há muitos materiais osteocondutores disponíveis e vários outros estão sendo desenvolvidos. Isso inclui osso humano processado (aloenxerto ósseo), colágeno purificado, diversas cerâmicas de fosfato de cálcio e polímeros sintéticos. Para escolher se, e quando, esses materiais são adequados, é necessário um conhecimento de seus efeitos nas células e também um conhecimento sobre o manuseio mecânico deles. Alguns materiais são reabsorvidos pelo corpo, enquanto outros podem permanecer no local do enxerto por muitos anos. Um cirurgião experiente deve saber equilibrar esses fatores. 

Estimulação Osteoindutora 

A indução de formação óssea se refere à capacidade de muitas substâncias químicas normais do corpo de estimularem células-tronco primitivas ou células ósseas imaturas a crescerem e amadurecerem, formando tecido ósseo saudável. A maioria, mas não todos esses sinais, envolve moléculas de proteínas denominadas, em grupo, “fatores de crescimento peptídeos” ou “citocinas”. Muitos desses fatores de crescimento estão presentes no osso humano normal. Por essa razão, foram desenvolvidos métodos para processar osso humano e preparar matriz óssea, a qual retém os fatores normais de crescimento, mas limita, se não elimina, o risco de transmissão de doenças ou viroses. O aloenxerto ósseo processado dessa maneira é, atualmente, o único modo aprovado para os cirurgiões poderem usar um estímulo osteoindutor. 

Essa tem sido uma área de intensa pesquisa durante os últimos 30 anos. Esse trabalho está agora suspenso para proporcionar aos Cirurgiões Ortopedistas e seus pacientes uma nova e importante ferramenta para restauração óssea, a qual pode reduzir a necessidade de procedimentos de transplante ósseo. Grande parte do interesse está centralizada em um grupo de proteínas chamadas proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs, do original em inglês), as quais possuem um efeito poderoso na estimulação da formação óssea. 

No longo prazo, na medida em que mais conhecimento for adquirido sobre como esses fatores de crescimento podem ser usados, as BMPs não serão as únicas opções para osteoindução. Já se sabe que muitos outros fatores de crescimento possuem efeitos específicos sobre o crescimento, a migração e o desenvolvimento de células ósseas e outras células na restauração óssea. Alguns dos fatores que provavelmente terão valor clínico no futuro são: Fator de Crescimento Epidérmico (EGF), Fator de Crescimento Derivado de Plaquetas (PDGF), Fator de Crescimento Fibroblástico (FGFs), Peptídeo Relacionado ao Hormônio da Paratireoide (PTHrp), Fator de Crescimento Similar à Insulina (IGFs) e Fator Transformador de Crescimento Beta (TGF-B). Muitos desses estão sendo investigados ativamente na Cleveland Clinic Foundation, embora nenhuma parte desse trabalho tenha avançado a ponto de oferecer opções de tratamento aos pacientes.

Acompanhe em nosso blog mais sobre enxertos ósseos e outros assuntos.

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *