Série: Desmentindo Mitos sobre Dor e Cirurgia da Coluna Episódio 10 — “Quem opera a coluna nunca mais trabalha nem faz esporte” — mito que aprisiona

7 de novembro de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos

Poucas frases assustam tanto quanto esta:
“Se eu operar a coluna, nunca mais vou poder trabalhar ou praticar esporte.”

Esse mito é tão enraizado que leva muitos pacientes a viverem anos limitados pela dor, com medo de perder para sempre sua independência.

A verdade é exatamente o contrário:
a cirurgia de coluna, quando bem indicada, geralmente devolve a capacidade de trabalhar, praticar esportes e viver plenamente.

De onde vem esse mito?

  1. Experiências ruins do passado — Décadas atrás, cirurgias eram grandes, traumáticas, com longos períodos de internação e limitações funcionais. Muitos pacientes realmente não conseguiam retomar a vida ativa.

  2. Histórias mal contadas — Casos de conhecidos ou parentes que operaram sem diagnóstico preciso e ficaram piores.

  3. Confusão entre repouso pós-operatório e restrição definitiva — Todo paciente precisa de um período de recuperação. Mas isso não significa que o retorno não seja possível.

O que mudou?

A evolução da cirurgia de coluna nas últimas décadas foi revolucionária:

  • Endoscopia de coluna: pequenas incisões, mínima agressão muscular, recuperação rápida.
    Técnicas minimamente invasivas (MIS): menor sangramento, cicatrizes menores, alta precoce.
    Anestesia moderna: protocolos mais seguros, menos efeitos colaterais.
    Reabilitação precoce: programas de fisioterapia iniciados logo após a cirurgia.

Hoje, o objetivo é claro: devolver função, não tirar função.

Trabalho: voltar é regra, não exceção

A maioria dos pacientes retorna ao trabalho após a recuperação.

  • Profissões intelectuais ou administrativas permitem retorno em poucas semanas.
    • Atividades físicas intensas exigem reabilitação mais longa, mas o retorno também é possível.
    • Em alguns casos, pode haver necessidade de ajustes ergonômicos ou mudanças de hábito (por exemplo, pausas para alongamento, cuidados com levantamento de peso).

A cirurgia, quando bem indicada, não é um atestado de incapacidade — é um passaporte para voltar a produzir.

Esporte: do medo à vitória

Outro medo recorrente:
“Nunca mais vou poder jogar futebol, correr, nadar.”
Mas os fatos dizem o contrário:

  • Há inúmeros atletas de alto rendimento que voltaram a competir após cirurgia de coluna (inclusive no tênis, futebol e corrida).
    • O segredo é a progressão orientada: fortalecimento da musculatura paravertebral, alongamentos adequados, técnicas corretas.
    • Em muitos casos, o paciente retorna ao esporte em melhor condição do que antes da cirurgia, porque a dor que limitava desaparece.

O que não é recomendado é retomar o esporte sem acompanhamento, sem respeitar prazos ou sem recondicionamento.

O que realmente determina o retorno?

  1. Qualidade da indicação cirúrgica — Quando a cirurgia é feita para resolver a causa correta, o retorno é esperado.

  2. Engajamento do paciente — Reabilitação não é opcional, é parte do tratamento.

  3. Estilo de vida — Tabagismo, obesidade e sedentarismo dificultam a recuperação.

  4. Expectativa realista — Cada caso tem um tempo e um limite, mas quase sempre é maior do que o paciente imagina.

Histórias que inspiram

  • Um caminhoneiro com hérnia lombar incapacitante, após cirurgia endoscópica, voltou à estrada em menos de dois meses.
    • Uma jogadora amadora de vôlei, que havia abandonado a quadra por dor ciática, retomou os treinos após três meses de fisioterapia pós-op.
    • Pacientes aposentados relataram voltar a atividades simples como jardinagem, dança e caminhadas, que julgavam perdidas para sempre.

Esses exemplos não são exceções: são a regra de quando o tratamento é bem conduzido.

Conclusão

O mito de que operar a coluna significa fim da vida ativa é uma prisão emocional que afasta o paciente da solução.

Na realidade, a cirurgia é muitas vezes o que permite a volta ao trabalho, ao esporte e à liberdade de movimento.

O futuro não é a limitação, mas a retomada da vida.

 


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