Série: Desmentindo Mitos sobre Dor e Cirurgia da Coluna Episódio 11 — “Prótese na coluna é igual à prótese de quadril ou joelho” — desfazendo a confusão
10 de novembro de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos
Muitos pacientes chegam ao consultório com uma comparação na ponta da língua:
“Ah, doutor, se a cirurgia for colocar uma prótese na coluna, é como prótese de quadril ou de joelho, certo?”
Essa ideia é comum, mas profundamente equivocada.
A verdade é que a lógica das próteses da coluna é completamente diferente das articulações de quadril e joelho.
Confundir esses conceitos gera expectativas irreais e até medo desnecessário.
O que é uma prótese de quadril ou joelho?
No quadril e no joelho, a cirurgia de prótese substitui a articulação inteira, trocando as superfícies danificadas por peças metálicas e de polietileno.
- O quadril passa a funcionar com uma “cabeça” artificial que articula em um “encaixe” também artificial.
• O joelho ganha superfícies novas que reproduzem o movimento da articulação.
São cirurgias comuns, realizadas há décadas, e indicadas para artroses avançadas que destroem a cartilagem.
E o que é uma “prótese de coluna”?
Na coluna, a história é outra. Temos basicamente dois grandes grupos de implantes que o público costuma chamar de “prótese”:
1. Prótese discal (artroplastia de disco)
- Substitui um disco degenerado por uma estrutura móvel que preserva parte da mobilidade.
• Indicação: casos específicos de degeneração discal em pacientes jovens e ativos, sem artrose facetária importante.
• Objetivo: manter o movimento e evitar sobrecarga nos segmentos vizinhos.
2. Implantes de artrodese (parafusos, cages, placas)
- Usados para fundir vértebras quando há instabilidade, deformidade ou necessidade de estabilização.
• Apesar de muitas vezes chamados de “próteses”, não substituem uma articulação inteira.
• Objetivo: estabilizar, não preservar movimento.
Portanto, o termo “prótese” na coluna não significa “trocar toda a articulação”, mas sim implantar um dispositivo que estabiliza ou mantém mobilidade em um nível específico.
Diferenças fundamentais
1. Número de articulações
- Quadril e joelho: uma articulação grande, substituída por completo.
• Coluna: múltiplas articulações pequenas (discos + facetas), impossíveis de serem todas substituídas.
2. Objetivo
- Quadril/joelho: restaurar movimento perdido.
• Coluna: em alguns casos, restaurar movimento (prótese discal), mas na maioria estabilizar e tirar dor.
3. Evolução histórica
- Próteses de quadril e joelho têm décadas de uso e altas taxas de sucesso.
• Prótese de disco é mais recente, com bons resultados em indicações adequadas, mas ainda restrita a centros especializados.
Por que essa confusão acontece?
- O termo “prótese” sugere automaticamente substituição completa.
• O marketing inicial da prótese discal fez muitos acreditarem que seria “a solução definitiva” para todos os problemas de coluna.
• O paciente associa cirurgia com implantes metálicos a algo padronizado, como ocorre no quadril e joelho.
Mas a coluna tem uma complexidade única: múltiplos segmentos, funções diferentes, necessidade de proteger nervos e medula.
O que esperar de uma prótese de disco?
Quando bem indicada, a artroplastia de disco pode:
- Reduzir a dor lombar causada por disco degenerado isolado.
• Manter a mobilidade do segmento.
• Reduzir sobrecarga em níveis adjacentes, diminuindo risco de degeneração futura.
Por outro lado:
- Não é indicada para artrose facetária avançada.
• Não substitui múltiplos discos de uma vez.
• Não é a solução para todo tipo de dor lombar.
E da artrodese?
A artrodese é o procedimento mais comum que utiliza implantes (parafusos, cages, hastes).
Ela promove fusão óssea entre vértebras, retirando movimento do segmento doente para eliminar dor.
O paciente não “ganha uma prótese que se mexe”, mas sim uma estabilização que traz alívio.
Conclusão
Dizer que prótese de coluna é igual a prótese de quadril ou joelho é simplificar em excesso uma realidade muito mais complexa.
Na coluna, prótese não significa substituição integral de articulação, mas sim implante para estabilizar ou preservar movimento em situações específicas.
Entender essa diferença é essencial para que o paciente tenha expectativas realistas e confiança na escolha terapêutica.




