Ainda tenho dor nas costas, e agora?

13 de setembro de 2016 | sem comentário

Considerada uma doença crônica entre os brasileiros, a dor nas costas afeta 36% da população. Mas apenas 68% busca tratamento.

Veja se isso soa familiar: Você lesionou as costas algum tempo atrás. Foi ao médico e inicialmente ele lhe receitou alguns medicamentos e fisioterapia para aliviar a dor nas costas. A fisioterapia não ajudou muito ou, na verdade, o fez piorar. Após várias semanas ou até meses tentando fisioterapia, você fez mais exames, inclusive radiografias ou talvez uma ressonância magnética.

Depois desses exames, talvez tenham lhe indicado algumas injeções de esteroides nas costas, que foram no mínimo três. Isso pode ter ajudado temporariamente, mas não resolveu a dor intensa que você está sentindo. Por fim, você se submeteu a uma cirurgia. Então, após o período de recuperação, talvez tenha sentido alguma melhora, especialmente se sentia dor na perna. No entanto, você continua com uma dor significativa nas costas.

A essa altura, muitos meses se passaram e você não consegue fazer as coisas que lhe dão prazer e talvez não tenha podido retornar ao trabalho. Agora, você está tentando muitos medicamentos diferentes, inclusive os que contêm opiáceos. Já consultou vários médicos, mas o que eles lhe disseram é que não há muito mais a fazer e que você precisa aprender a conviver com a dor.

Se a essa altura você não estivesse um tanto frustrado, bravo e até deprimido, seria um indivíduo realmente raro. Se qualquer dessas situações soar familiar, continue lendo porque pode haver algumas coisas a ser feitas para ajudá-lo. A dor crônica das costas pode ser um desafio para tratar, mas você tem opções.

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Abordagem multidisciplinar da dor nas costas

A primeira coisa que eu sugeriria é parar de buscar por uma solução. Não estou brincando. Refiro-me ao fato de que quando se cai na infeliz circunstância de sofrer de dor lombar crônica, descobrimos que não há uma solução única para o problema. Em vez disso, é necessário utilizar intervenções múltiplas para melhorar o estado. Isso se chama “abordagem multidisciplinar”. Geralmente, uma combinação de diferentes tratamentos pode ajudar, mesmo se alguns deles já foram tentados antes, mas não na mesma combinação. Nunca é demais enfatizar esse ponto.

Entender a dor nas costas

Outro passo muito importante para a melhora é entender o que é e quais as possíveis causas para a dor nas costas. A maioria das pessoas, inclusive os profissionais de saúde, tem uma visão muito simplista do que a dor vem a ser. A dor para nós representa alguma parte que foi lesionado ou está para ser.

Uma terminação nervosa especializada sente essa dor e envia uma mensagem à medula espinhal e ao cérebro, onde então percebemos a dor. Afinal, não é por isso que necessitamos sentir dor? Para podemos saber quando estamos nos machucando ou a ponto de nos machucar.

No entanto, essa visão simplista da dor não explica por que – quando o médico lhe disse que não conseguiu encontrar nada de errado – e a cirurgia que removeu o que estava causando a lesão – e você está todo curado – mesmo assim, ainda sente dor.

Dor e neurotransmissores

Essa visão da dor também não explica por que, quando estamos frustrados ou bravos, nossa dor parece piorar muito. E quando estamos distraídos, assistindo um filme ou envolvidos numa boa conversa, nossa dor parece menor. Um novo conceito de dor está surgindo que pode explicar essas coisas.

Esse conceito se baseia no fato de que há substâncias químicas de ocorrência natural usadas pelo sistema nervoso para transmitir mensagens de dor. Essas se chamam “neurotransmissores” e existem diversos tipos. Alguns desses neurotransmissores, como as endorfinas, da qual você já deve ter ouvido falar, podem ajudar a diminuir a dor. Existem outros neurotransmissores que podem aumentar a dor.

Uma teoria relativa à dor crônica é que o sistema nervoso está com um desequilíbrio desses neurotransmissores de ocorrência natural. Os que ajudam a diminuir a dor não parecem estar funcionando bem – e os que aumentam a dor parecem estar funcionando de modo excessivo. É quase como se um interruptor químico tivesse sido ligado e não se desliga.

Nessas situações, a mensagem de dor que está sendo enviada não significa que algo esteja lesionado ou a ponto de ser. Assim sendo, não é uma mensagem útil para nós e o sistema não está funcionando como deveria.

Ou talvez você se encontre numa situação em que há a presença de um processo doentio, como a artrite degenerativa, que continua a enviar mensagens de dor. No entanto, essas mensagens de dor também não são úteis, pois não há nada que se possa fazer a respeito da artrite. A teoria de que a dor crônica é um desequilíbrio de neurotransmissores químicos também explica como nosso estado emocional e comportamentos podem afetar nossa dor.
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Efeitos do comportamento e das emoções

Nossos comportamentos e nosso estado emocional modificam a química de nosso sistema nervoso, assim acentuando ou diminuindo nossa dor. Com esse novo conceito, muito mais complexo do que é a dor, podemos entender que há muitas outras abordagens que podem ajudar a administrar a dor crônica que o acomete.

Intervenções complementares

Muitas intervenções úteis podem ser coisas que associamos ao tratamento médico. Essas coisas são também denominadas de medicinas “complementares” ou “alternativas”. Prefiro o termo “complementar”, pois isso implica em múltiplas intervenções, que também incluem as intervenções médicas tradicionais. Descobri que essa é a melhor abordagem para o paciente que sofre de dor crônica nas costas.

Uma combinação que muitas vezes recomendo aos pacientes é a utilização de massagem suave para diminuir os espasmos musculares dolorosos. Em acréscimo a isso, tratamentos semanais de acupuntura parecem ajudar a diminuir a dor de modo significativo.

Acupuntura é a inserção de minúsculas agulhas esterilizadas na pele em pontos específicos, que se baseiam em princípios da medicina chinesa, onde a acupuntura é usada para criar o equilíbrio de uma energia denominada Chi que existe no organismo. Sob o ponto de vista científico, demonstrou-se que ela altera esses neurotransmissores de ocorrência natural de que falamos.

Em acréscimo à massagem e à acupuntura, terapias baseadas em alguns movimentos suaves costumam ser eficazes. Geralmente, a dor pode ser tão forte que os exercícios tradicionais só a agravam. No entanto, sabemos que o exercício físico é muito benéfico para diminuir a dor porque também mexe com aqueles neurotransmissores.

Uma boa maneira de se exercitar com suavidade é utilizando técnicas como Tai Chi, Yoga ou Pilates. O Tai Chi também se baseia nos princípios da medicina chinesa e utiliza movimentos rítmicos lentos para aumentar força, equilíbrio, resistência e mobilidade.

O Yoga utiliza técnicas respiratórias e de relaxamento para também aumentar mobilidade e força. O Pilates é uma técnica muito popular entre bailarinos e parece ser especialmente eficaz para pessoas com dor lombar. É também uma combinação suave de fortalecimento e alongamento, que ajuda em especial a fortalecer a região lombar e a musculatura abdominal.

Consequências emocionais da dor nas costas

Além de enfocar os componentes físicos da dor, é importante não fazer vista grossa para as consequências emocionais da dor crônica. Raiva, frustração e depressão alteram a química neuronal e realmente aumentam a dor. No entanto, com uma combinação de meditação, técnicas respiratórias e aconselhamento psicológico para aprender a lidar com estratégias de adaptação, essas consequências emocionais podem ser tratadas com eficácia.

Para alguns de meus pacientes eu até recomendo coisas como terapia de humor ou que ele façam algo que lhes agrada diariamente, como dança. Essas coisas são realmente muito acessíveis. Pode-se assistir a algum programa cômico na TV, alugar uma comédia ou ler textos bem humorados. Da mesma forma, é simples escutar música e movimentar-se suavemente ao seu ritmo, mesmo estando sentado. É interessante notar que essas coisas foram estudadas e também demonstraram que mudam aqueles neurotransmissores de um modo positivo para ajudar a diminuir a dor.

Sentir-se melhor

Uma combinação dessas intervenções com as mais tradicionais podem não eliminar a dor completamente, mas muitos pacientes de dor crônica atestam que se sentem melhor e então se capacitam a serem mais ativos, a fazer as coisas que gostam e aproveitam a vida. Ou seja, eles realmente aprendem a conviver com a dor.

Talvez a última coisa que você queira fazer quando tem dor crônica é se exercitar, pois isso parece ser um acréscimo à dor. Mas se você não se exercita, o corpo fica fora de forma – os músculos perdem o tônus, por exemplo – e a dor realmente aumenta porque o corpo não está funcionando tão bem como deveria.

É provável que exercício e atividade física em geral, por mais difícil que possa parecer, venha a ser parte do seu plano de tratamento para a dor crônica. É passado o tempo em que o médico o aconselharia a ficar acomodado na cama. Talvez lhe digam para descansar um pouco (talvez por cerca de um dia), mas você também será incentivado a voltar a se movimentar.

Benefícios do Exercício Físico

Os benefícios do exercício físico são muitos, mas alguns específicos para os que sofrem de dor crônica nas costas são:

  • Mantém a boa mobilidade das articulações. Isso é especialmente importante para pacientes com dor crônica provocada por artrite.
  • Fortalece os músculos. Uma musculatura forte dá melhor sustentação ao corpo e aos ossos e isso é especialmente importante para pacientes com dor crônica nas costas. A coluna vertebral precisa de todo o auxílio que conseguir para amortecer seus movimentos e sustentar seu peso, portanto é preciso trabalhar para manter as costas e os músculos fundamentais em boas condições.
  • A atividade faz bem para a saúde mental. Os pacientes com dor crônica podem se debater com depressão, ansiedade ou outras questões de saúde mental porque lhes é difícil levar a vida como antes. A atividade pode elevar a autoestima e fazer com que a pessoa sinta que está fazendo alguma coisa para combater a dor e seus efeitos na vida. Exercitar-se com amigos ou entrar para uma academia é uma boa maneira de se motivar e também colher os benefícios sociais do exercício.
  • Ajuda a evitar a obesidade. O peso adicional pode ser um acréscimo para a dor, especialmente para quem sofre de dor crônica nas costas. Fazendo escolhas nutricionais saudáveis e mantendo-se fisicamente em forma, é possível manter um peso adequado.

Que tipo de exercício fazer para aliviar a dor nas costas

Converse com seu médico ou fisioterapeuta sobre o tipo de exercício físico que lhe faria bem. É preciso levar em conta a dor, o grau de forma física e as atividades que você aprecia. Um fisioterapeuta pode lhe ajudar a desenvolver um plano regular de exercícios físicos que lhe permita dar continuidade, um plano que não o sobrecarregue.

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Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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