Série: Dor na Coluna — O Que Você Precisa Saber Antes de Desistir Episódio 10 – “Não é frescura. É compressão.”

22 de outubro de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos

“Mas no exame não deu nada…”
“Você tá muito estressado.”
“Talvez seja só tensão muscular.”
“Já tentou relaxar?”
“Você está somatizando.”

Essas frases, embora ditas com boa intenção, machucam mais do que ajudam.

Elas sugerem que o problema não está no corpo — está na cabeça.
Que a dor não é uma condição — é uma invenção.

E essa insinuação ainda tão presente precisa ser desmontada com verdade:

Não é frescura. É compressão.

A dor radicular: quando o nervo está em sofrimento

Muitas das dores mais intensas da coluna têm uma origem comum:
compressão da raiz nervosa.

Isso pode ser causado por:

  • Hérnia de disco
  • Estenose de canal
  • Espondilolistese
  • Osteófitos (bicos de papagaio)
  • Edema por inflamação crônica

Quando o nervo é comprimido, ele reage com sinais como:

  • Dor irradiada para perna ou braço
  • Queimação, formigamento, dormência
  • Sensação de choque ou peso
  • Perda de força muscular
  • Dificuldade para caminhar ou levantar peso

E o mais cruel: essa dor nem sempre aparece claramente na imagem.

Por que muitas compressões passam despercebidas

Porque o diagnóstico exige:

  • Escuta ativa
  • Exame físico direcionado
  • Interpretação clínica da imagem

Às vezes:

  • A hérnia é pequena, mas mal localizada
  • O canal está estreito em posições específicas
  • A compressão só aparece em movimento

Se o profissional não tiver experiência em coluna, ele pode:

  • Minimizar a queixa
  • Focar apenas no laudo
  • Ignorar a correlação clínica
  • Rotular como “dor sem causa” ou “psicológica”

Resultado: o paciente sai mais confuso do que entrou.

Frescura não dá formigamento. Nem tira o sono. Nem trava a perna.

Vamos deixar claro:

  • Frescura não dá sinal de Lasègue positivo
  • Frescura não causa claudicação neurogênica
  • Frescura não provoca dor em choque que impede de andar

Quando o nervo está comprimido, o corpo reage com intensidade:

“Sinto como se pisasse em cacos de vidro.”
“Choques elétricos descem pela perna.”
“A perna não me obedece.”
“Queima por dentro.”
“A dormência vem e vai sem padrão.”

Isso não é invenção.
É neurofisiologia.
É sofrimento elétrico traduzido como dor.

Sofrimento ≠ sensibilidade exagerada

É verdade: cada pessoa sente dor de um jeito.

Mas a intensidade não diminui a legitimidade da dor.

  • Quem sente mais não é frágil
  • É mais sensível — por fatores neurológicos, genéticos, hormonais ou emocionais

A dor crônica altera o cérebro. Pacientes com dor há anos desenvolvem:

  • Hipersensibilidade central
  • Alterações no tálamo, córtex pré-frontal e sistema límbico
  • Reação aumentada a estímulos mínimos

Não é drama. É fisiologia.

Como identificamos compressões mesmo com exames “normais”

Na Clínica Vertebrata, seguimos um protocolo integrado:

1. Escuta ativa e direcionada

  • Descrição da dor
  • Padrões, gatilhos, horários, alívio, piora

2. Exame físico funcional

  • Testes específicos (Lasègue, Bragard, Tinel)
  • Avaliação de força, marcha, postura e reflexos

3. Interpretação clínica da imagem

  • Avaliação além do laudo
  • Pequenas protrusões com impacto funcional relevante
  • Uso de bloqueios diagnósticos para confirmação

Tratamento: como aliviar a compressão com menos invasão

Hoje, a compressão nervosa pode ser tratada com técnicas modernas:

Endoscopia de coluna

  • Acesso com microcâmera de 7mm
  • Alta no mesmo dia
  • Descompressão precisa e minimamente invasiva

Bloqueios radiculares

  • Injeção com anestésico e anti-inflamatório no ponto exato
  • Alívio duradouro + confirmação diagnóstica

Denervação seletiva

  • Para dor em articulações facetárias ou sacroilíacas

Neuromodulação medicamentosa

  • Tratamento específico para dor de origem nervosa

Cada caso tem uma conduta.
Mas todos têm um ponto em comum: o sofrimento é real — e merece respeito.

Conclusão: pare de duvidar da própria dor

Se você sente que algo está errado:

  • Confie no seu corpo
  • Você não está se vitimizando
  • Você não está exagerando
  • Você não é “fresco”

Você está com um alarme neurofisiológico legítimo.

E na Clínica Vertebrata, esse alarme não é ignorado.
É escutado.
É interpretado.
E tratado — com técnica, precisão e respeito.


Porque não é frescura.
É compressão.
E sim — tem tratamento.

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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