Síndrome da cauda equina: quando agir com urgência

18 de julho de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos

 

Síndrome da cauda equina: urgência neurológica na prática da coluna

A síndrome da cauda equina é uma emergência neurocirúrgica que exige reconhecimento precoce e intervenção imediata. Quando não tratada a tempo, pode causar disfunções neurológicas permanentes, como paralisia, anestesia perineal e incontinência urinária ou fecal.

Apesar de sua gravidade, a condição ainda representa um desafio diagnóstico — principalmente nos estágios iniciais, quando os sintomas podem ser sutis ou confundidos com quadros comuns de lombalgia e ciatalgia. Para o especialista em coluna, identificar rapidamente os sinais e indicar a cirurgia no tempo certo é determinante para o prognóstico funcional do paciente.

 

Aspectos anatômicos e fisiopatológicos

A cauda equina, por definição, corresponde ao feixe de raízes nervosas lombossacrais que emerge abaixo da medula espinhal, a partir do cone medular (L1-L2). Essas raízes, portanto, são responsáveis por inervar estruturas motoras e sensoriais dos membros inferiores e da pelve.

Quando há compressão desse feixe  geralmente causada por hérnia discal volumosa, estenose canalicular grave, tumor, fratura ou hematoma ocorre, como consequência, uma disfunção mista: motora, sensitiva e autonômica.

Do ponto de vista fisiopatológico, o mecanismo central envolve a compressão aguda ou subaguda dessas raízes. Se a causa não for prontamente tratada, essa compressão leva à isquemia neural e, posteriormente, à degeneração axonal e à perda funcional irreversível.

Etiologias mais comuns da síndrome da cauda equina

  • Hérnia de disco lombar volumosa: principal causa, especialmente em L4-L5 e L5-S1.
  • Estenose lombar grave: frequentemente degenerativa, em idosos.
  • Fraturas vertebrais: por trauma ou osteoporose.
  • Tumores espinhais: primários ou metastáticos.
  • Abscessos epidurais: mais raros, mas potencialmente fatais.
  • Hematomas: pós-procedimentos invasivos ou espontâneos, sobretudo em pacientes anticoagulados.

 

Quadro clínico: sinais que exigem ação imediata

Os sintomas da síndrome da cauda equina podem se manifestar de maneira aguda, subaguda ou crônica, sendo essencial reconhecer o padrão clínico clássico:

  • Anestesia em sela: perda de sensibilidade na região perineal e interna das coxas.
  • Incontinência urinária e/ou fecal: frequentemente associada à retenção urinária paradoxal.
  • Fraqueza motora: especialmente em dorsiflexores e extensores dos pés.
  • Perda de reflexos: patelar e aquileu.
  • Dor lombar intensa: geralmente irradiada para membros inferiores (ciatalgia bilateral).

A tríade clássica dor lombar, disfunção vesical e anestesia em sela — embora importante, nem sempre está presente, o que aumenta o risco de atraso diagnóstico.

 

Diagnóstico: uma corrida contra o tempo

Avaliação clínica

A anamnese precisa incluir investigação de alterações urinárias e sexuais, mesmo que o paciente não relacione espontaneamente à lombalgia. O exame físico deve contemplar a avaliação do tônus esfincteriano, sensibilidade perineal e força motora dos membros inferiores.

Exames de imagem

  • Ressonância Magnética (RM): exame de escolha, com altíssima sensibilidade para identificar compressão neural, seja por hérnia, tumor ou estenose.
  • Tomografia Computadorizada (TC): pode ser útil quando a RM não está disponível ou é contraindicada, mas tem menor sensibilidade para avaliação de partes moles.

O tempo entre o início dos sintomas e a confirmação diagnóstica é diretamente proporcional ao prognóstico neurológico.

 

Tratamento: a cirurgia como imperativo terapêutico

A síndrome da cauda equina é, classicamente, uma indicação absoluta de descompressão cirúrgica urgente.

Abordagem cirúrgica

  • Laminectomia descompressiva: procedimento padrão para alívio da compressão.
  • Microdiscectomia: indicada em casos de hérnia discal isolada.
  • Drenagem de abscessos ou hematomas: conforme etiologia.
  • Ressecção tumoral: quando aplicável.

O consenso na literatura médica recomenda que a descompressão cirúrgica seja realizada preferencialmente dentro de 6 a 24 horas após o diagnóstico, visando minimizar sequelas neurológicas.

A postergação do tratamento além de 48 horas está associada a piores desfechos, sobretudo em relação à recuperação da função esfincteriana e motora.

 

Prognóstico: fator tempo e extensão da lesão

O prognóstico funcional na síndrome da cauda equina depende de:

  • Rapidez no diagnóstico e na intervenção cirúrgica.
  • Gravidade da lesão neural pré-operatória.
  • Tempo de compressão e isquemia neural.

Em geral, déficits motores têm maior chance de recuperação que as disfunções autonômicas, que podem permanecer mesmo após descompressão adequada.

Estudos mostram que apenas 30-50% dos pacientes recuperam totalmente a função urinária e sexual quando a cirurgia é realizada tardiamente.

 

Considerações finais: diagnóstico precoce como dever ético

Em resumo, a síndrome da cauda equina representa uma das maiores urgências no campo da cirurgia de coluna.

Dessa forma, para o especialista, é imperativo manter alto grau de suspeição clínica diante de qualquer paciente com dor lombar intensa associada a disfunção esfincteriana ou anestesia perineal.

Para garantir o melhor desfecho, o manejo ideal requer integração clínica ágil, acesso a diagnóstico por imagem de alta qualidade e uma equipe cirúrgica experiente, que possa realizar a descompressão com segurança e rapidez.

Afinal, o tempo, nesse cenário, é mais que um fator: é determinante da qualidade de vida futura do paciente.

Na Clínica Vertebrata, temos expertise e estrutura para diagnóstico rápido e tratamento cirúrgico seguro da síndrome da cauda equina. Se você apresenta sintomas sugestivos, não espere: agende sua avaliação e proteja sua qualidade de vida.

 

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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