Série: Desmentindo Mitos sobre Dor e Cirurgia da Coluna Episódio 5 – “Cirurgia de coluna é sempre a última opção?”

22 de outubro de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos

Quantas vezes você já ouviu — ou até disse — a frase:

“Cirurgia de coluna só em último caso!”?

Essa afirmação se tornou um dos mantras mais repetidos por pacientes, médicos de diferentes áreas, familiares bem-intencionados e até mesmo profissionais da mídia.
Mas a verdade é que essa “regra” está desatualizada.

Hoje, com os avanços da medicina e das técnicas minimamente invasivas, insistir nessa ideia pode ser perigoso.

Neste episódio, vamos abordar com clareza e profundidade:

  • De onde vem esse mito?
  • O que mudou com as novas técnicas?
  • Quando a cirurgia deixa de ser “último recurso” e passa a ser “a melhor escolha”?
  • O que acontece quando se espera demais?
  • Como tomar a decisão certa, no tempo certo?

A origem do mito: uma medicina que já não existe

Até algumas décadas atrás, a cirurgia de coluna era um procedimento:

  • Invasivo
  • Arriscado
  • Realizado com cortes grandes
  • Que exigia internação prolongada
  • Cuja recuperação era lenta e dolorosa
  • Com resultados incertos, especialmente em cirurgias mal indicadas

Era natural — e até sensato — que tanto pacientes quanto médicos evitassem ao máximo esse caminho.
Naquela época, o conselho “espere até não aguentar mais” fazia sentido, pois a cirurgia envolvia riscos proporcionais à complexidade da intervenção.

Mas essa realidade mudou profundamente.

A medicina evoluiu. A mentalidade, nem sempre.

Hoje, temos à disposição técnicas altamente precisas, seguras e muito menos agressivas para o corpo:

  • Endoscopia da coluna
  • Microcirurgias com cortes de poucos milímetros
  • Descompressões seletivas sem necessidade de artrodese
  • Bloqueios terapêuticos diagnósticos
  • Cirurgias ambulatoriais com alta no mesmo dia

Esses avanços permitem tratar dores incapacitantes e disfunções neurológicas de forma rápida, eficaz e com baixo risco.

Ainda assim, muitos pacientes continuam ouvindo — e repetindo — o velho mito de que “cirurgia é só no último caso”.

A pergunta que fazemos é:

E se esse “último caso” chegar tarde demais?

As consequências de esperar demais

Insistir em esperar pode parecer prudente, mas nem sempre é seguro.
A dor é um sintoma — mas também é um alerta.

Quando há compressão de nervos, hérnias volumosas, instabilidades estruturais ou comprometimento funcional, o tempo passa a ser um fator crítico.

O que pode acontecer quando se adia além do ideal?

  • Danos permanentes às raízes nervosas
  • Perda de força muscular que não se recupera mais
  • Instalação de dor crônica refratária
  • Alterações sensitivas irreversíveis (formigamentos, queimação)
  • Queda na qualidade de vida
  • Quadro emocional de exaustão, ansiedade ou depressão

Adiar uma cirurgia bem indicada por medo ou desinformação pode transformar um problema tratável em uma sequela definitiva.

O novo paradigma: a cirurgia como ferramenta, não punição

A cirurgia de coluna não é castigo.
Não é derrota.
E não é sentença.

Ela é uma ferramenta poderosa, que quando usada com sabedoria, pode devolver ao paciente:

  • Liberdade de movimentos
  • Qualidade de vida
  • Capacidade de trabalho
  • Sono tranquilo
  • Vontade de viver

É claro que não é para todos os casos.
Mas para os casos certos — no tempo certo — ela é um divisor de águas.

“Mas doutor, e os riscos?”

Sim, toda cirurgia tem riscos.
Mas também têm riscos:

  • O uso crônico de anti-inflamatórios e relaxantes
  • A exposição prolongada à dor
  • O sedentarismo forçado por medo do movimento
  • A perda de produtividade e vínculo social
  • A deterioração progressiva do quadro clínico

O risco da cirurgia precisa ser comparado com o risco de não operar.

Na Clínica Vertebrata, fazemos essa análise com critério, escuta e responsabilidade.

Como saber se é hora de operar?

Não existe um “relógio universal”.
Cada paciente tem sua história, seu corpo, seu grau de comprometimento.

Mas alguns sinais costumam indicar que já não se trata mais de um caso conservador:

  • Dor incapacitante que persiste apesar de tratamento clínico
  • Déficits neurológicos em progressão (fraqueza, formigamento, perda de reflexos)
  • Comprometimento funcional (limitação para caminhar, trabalhar, se vestir)
  • Falha de múltiplas tentativas conservadoras (fisioterapia, medicação, bloqueios)
  • Evidência de compressão mecânica severa no exame de imagem

Se você chegou nesse ponto, a cirurgia não é a última opção.
Ela pode ser a melhor e mais segura.

Casos reais: quando operar muda tudo

Ao longo de mais de 30 anos de carreira, presenciei transformações que a medicina jamais explicará apenas com ciência:

  • Pacientes que não conseguiam mais sair da cama e voltaram a caminhar no parque com os netos.
  • Pessoas afastadas há anos do trabalho que retomaram sua vida profissional.
  • Casais que voltaram a dormir na mesma cama, pois a dor deixou de ser a terceira presença entre eles.

Essas histórias têm algo em comum:

A decisão de operar no momento certo.

Cirurgias minimamente invasivas: por que elas mudam o jogo

É importante destacar que a maior parte dos pacientes ainda associa cirurgia de coluna a procedimentos complexos, com internação prolongada e corte profundo.

Mas as técnicas atuais — como a endoscopia da coluna — tornaram muitos procedimentos:

  • Ambulatoriais
  • Sem necessidade de internação
  • Com anestesia leve
  • Com alta no mesmo dia
  • Com retorno precoce às atividades

Além disso, o trauma tecidual é mínimo, o que reduz:

  • Dor pós-operatória
  • Tempo de recuperação
  • Risco de infecção
  • Necessidade de reabilitação prolongada

Mas e se eu me arrepender? E se não der certo?

Essa é uma dúvida legítima — e deve ser acolhida com seriedade.
Ninguém deve se sentir pressionado a operar.
Mas também não pode ser mantido no sofrimento por medo de um cenário catastrófico que não corresponde mais à realidade.

O índice de sucesso de cirurgias bem indicadas, com técnicas modernas, é altíssimo — especialmente quando o paciente é corretamente selecionado e orientado.

Na Clínica Vertebrata, nós não operamos exames. Operamos pessoas.
Com nome, história, angústias e esperanças.

Conclusão: repense o conceito de “última opção”

Se você está em sofrimento há meses ou anos…
Se já tentou de tudo e nada resolveu…
Se a dor está roubando sua vida, seus vínculos, sua identidade…

Talvez não falte tentar tudo.
Talvez só falte tentar o certo.

E esse certo, em alguns casos, pode ser a cirurgia — feita com respeito, critério e a técnica mais moderna disponível.

Cirurgia de coluna não é o fim da linha.
Pode ser o começo de uma vida nova.

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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