Série: Dor na Coluna — O Que Você Precisa Saber Antes de Desistir Episódio 9 – “A dor vem e vai… até não ir mais.”

22 de outubro de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos

No início, parece algo simples:

  • Uma fisgada
  • Uma queimação leve
  • Um incômodo após ficar muito tempo em pé ou sentado

No dia seguinte, melhora.
Passa uma semana — volta.
Vem e vai. Vem e vai.

Até que um dia… vem — e não vai mais.

A dor intermitente é traiçoeira. Ela se disfarça de alívio.
Mas por trás do sumiço temporário, pode haver uma estrutura em deterioração.

Neste episódio, falamos sobre o erro de confiar no “vai e vem” da dor — e a importância de agir antes que ela resolva ficar para sempre.

O ciclo da dor que engana: os estágios silenciosos da cronicidade

Muitos pacientes relatam um padrão:

  1. Dor leve após esforço
  2. Alívio com descanso ou analgésico
  3. Episódios irregulares ao longo dos meses
  4. Intensificação progressiva (com irradiação)
  5. Travamento, dormência ou perda de força
  6. Instalação da dor crônica
  7. Procura desesperada por solução

Essa progressão poderia ser evitada com intervenção precoce.
Mas como a dor “vai embora”, o diagnóstico é adiado.

Por que a dor na coluna vem e vai?

A explicação está na fisiologia:

  • Disco desgastado: se projeta mais em certas posturas
  • Compressão de nervo: pode ser intermitente, sensível a esforço ou inchaço
  • Dor facetária: posicional, piora em extensão
  • Estenose: silenciosa em repouso, mas ativa ao caminhar

Ou seja: a ausência de dor constante não significa ausência de problema.
Significa apenas que o corpo ainda está compensando — por enquanto.

A dor como alarme: por que ela precisa ser ouvida cedo

A dor é como um sensor de fumaça.
Ela não apita por acaso.
Ela surge por:

  • Sobrecarga
  • Compressão
  • Inflamação
  • Instabilidade

Ignorar o alarme pode transformar um caso tratável com bloqueios ou endoscopia em uma condição que exige:

  • Artrodese
  • Cirurgia multissegmentar
  • Reabilitação prolongada

Agir enquanto a dor ainda vem e vai é uma oportunidade clínica valiosa.

Tolerância à dor: virtude ou armadilha?

Frases como:

“Não é todo dia.”
“Já aprendi a conviver.”
“Tem dias que nem lembro dela.”

Revelam um padrão perigoso: a normalização da dor.

Você não precisa esperar:

  • Travar ao sair da cama
  • Parar de caminhar
  • Sentir dormência frequente
  • Depender de remédios

A dor esporádica pode ser o corpo pedindo ajuda — antes de gritar.

“Mas se a dor sumiu, ainda preciso investigar?”

Sim. E aqui está o porquê:

A causa pode continuar evoluindo mesmo sem sintomas

  • Hérnias podem crescer
  • Instabilidade pode se agravar
  • Desgaste pode acelerar

A ausência de dor não impede sequelas funcionais

  • Rigidez articular
  • Enfraquecimento muscular
  • Perda de mobilidade

A dor pode voltar mais intensa e resistente

  • Recaídas tendem a piorar sem tratamento adequado

Diagnóstico precoce = soluções menos invasivas

  • Evita cirurgias maiores
  • Permite controle clínico eficaz

Avaliando antes que a dor vire rotina

Na Clínica Vertebrata, valorizamos tanto a dor que vem e vai quanto a que veio para ficar.

Em casos intermitentes, realizamos:

  • História clínica detalhada
  • Exame físico direcionado
  • Ressonância ou tomografia, mesmo sem dor no momento
  • Bloqueios diagnósticos para confirmar hipóteses

Nosso objetivo:
Entender a causa
Tratar agora para evitar agravamentos

“Mas doutor, e se passar sozinho?”

Sim, alguns episódios isolados realmente podem regredir:

  • Dor aguda e autolimitada após esforço pontual

Mas atenção:

Dor recorrente, mesmo com alívio por remédio → merece investigação.

Não conte com a sorte. Conte com o diagnóstico.

Conclusão: quanto antes entender, melhor tratar

A dor que vem e vai é como a maré:
Você pode ignorar enquanto ela recua —
Mas, quando voltar com força, pode te arrastar.

Na Clínica Vertebrata, acolhemos pacientes que acham que “ainda não é tão grave assim”.

Porque o tempo — quando bem usado — é parte do tratamento.


Se a dor aparece e some, leve isso a sério.
Talvez seja o melhor momento para agir —
antes que ela venha… para nunca mais ir embora.

 

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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