Dores nas costas na gravidez

21 de dezembro de 2011 | sem comentário | Categoria(s): coluna cervical, coluna lombar, dor na coluna, gestação, gravidez, tratamentos

Um mal que afeta as mulheres – Dores nas costas na gravidez
Dores nas costas na gravidez

Em aproximadamente 80% das mulheres grávidas, as dores nas costas surgem de forma predominante. Não são totalmente conhecidas as causas das dores nas costas na gravidez. Portanto, as recomendações de tratamento são fracas. Com o aprendizado tanto do médico quanto do paciente, as opções de tratamento podem ser melhor desenvolvidas.

Dor Pélvica Periparto

Dor na região pélvica, para a qual não foi dado nenhum diagnóstico definido, é denominada de dor pélvica periparto. Essa dor pode começar durante a gravidez, ou a três semanas do parto. Anatomicamente, a dor se apresenta mais comumente nas seguintes áreas: articulações sacroilíacas na espinha ilíaca posterossuperior (42%), na região da virilha (53%), cóccix (33%), sínfise púbica anterior (77%) e, ocasionalmente, outras áreas da pelve e parte superior das pernas. Raramente a dor ocorre abaixo dos joelhos. A dor costuma ser influenciada pela postura e está associada com um andar gingado. Em aproximadamente 80% das gestações, as dores nas costas são localizadas, mas o local pode variar. Embora uma dor de maior duração seja muito rara, a dor em curto prazo costuma ser predominante. Normalmente, durante o terceiro trimestre, 50% das pacientes grávidas sentirão dores nas costas. A prevalência de dor no período pós-parto é de aproximadamente 9%, em ordem decrescente, nas seguintes regiões: sacra, lombossacra, lombar, cervicotorácica e em outras áreas.

Hérnia de Disco

Acredita-se que a predominância da dor durante os primeiros nove meses seja de 90%, enquanto que em controles sem gravidez para o mesmo período de tempo seja de aproximadamente 20%. Embora a dor possa ser severa, a hérnia de disco, extremamente rara durante a gravidez, não deve ser a causa. A hérnia de disco apresenta a mesma taxa de incidência em mulheres não gestantes, ou aproximadamente 1:10.000 (uma em 10.000).

Índices sobre Dor

Com relação à idade e ao hábito de fumar, não foi demonstrada nenhuma diferença nos índices relativos à dor. Entretanto, um leve aumento de dor em periparto tem sido demonstrado na presença de uma maior massa corporal, maior número de gestações e histórico anterior de dor durante a gravidez. Além disso, mulheres mais jovens costumam ter dor mais intensa em comparação com mulheres de mais idade. Um terço das mulheres descreve sua dor como incapacitante, restringindo suas atividades e causando uma deficiência dispendiosa. Aproximadamente 10% das mulheres descrevem sua dor como extremamente incapacitante.

Etiologia da Dor

Provavelmente, a etiologia da dor está relacionada com uma combinação de fatores mecânicos, metabólicos, circulatórios e psicossociais. Um terço das pacientes que experimentaram alguma dor que teve início durante o primeiro trimestre, quando as forças mecânicas não são significativas, representam um grande indício de que a causa mais provável seja devido a uma mudança na influência hormonal. Acredita-se que os hormônios causem modificações no ponto de inserção dos ligamentos aos ossos. Uma concentração maior de ligamentos na parte inferior da espinha pode surgir como a causa para uma maior incidência de dores nas costas em mães multíparas, as quais tiveram mais exposição às influências hormonais. Além disso, um aumento na dor pré-menstrual ocorreu na grande maioria de mulheres, cuja dor foi sugestivamente influenciada por mudanças hormonais. Também foram encontrados níveis mais altos de relaxina sérica em mulheres com dor pélvica periparto. Há evidências que sugerem que um conjunto diferente de receptores é sensibilizado por hormônios na espinha inferior durante a gravidez. Portanto, acredita-se que a maior parte das dores seja consequência das mudanças hormonais ao invés de estresse químico.

Lordose Lombar

Acreditava-se que a lordose lombar aumentava durante a gravidez. Entretanto, estudos radiológicos demonstraram que, na realidade, a lordose diminui durante a gravidez. Assim, a maioria das dores deve-se à combinação de músculos e ligamentos com alguma alteração no fluxo sanguíneo para a musculatura e os ligamentos pélvicos.

Tratamento

As recomendações de tratamento para dor pélvica na maioria dos livros de obstetrícia e ginecologia deixa a desejar. As pacientes são instruídas a evitar ganho excessivo de peso, a realizar exercícios para fortalecer os músculos das costas, a manter uma postura correta e a usar sapatos adequados (sem saltos altos). Algumas atividades realmente causam ou agravam a dor. As mais comuns são: 30 minutos em pé ou caminhando, carregar uma sacola cheia de compras, ficar em pé numa perna só, subir escadas, virar-se na cama, ter relações sexuais, dobrar-se para frente, deitar-se ou levantar-se da cama e dirigir por 30 minutos. Muitas opções de tratamento estão disponíveis, incluindo uma cinta pélvica (sob prescrição), descanso adequado, medicamentos, massagens e exercícios básicos para as costas. É interessante observar que um percentual das mulheres encontra alívio nesses tratamentos. A cinta pélvica ajudou aproximadamente 50% das mulheres durante a gravidez e 66% após a gravidez. Repousar deitada e praticar exercícios foram os melhores tratamentos, resultando em uma rápida recuperação de 65%. Apenas repousar deitada: somente 40% melhoraram; apenas exercícios: somente 35% apresentaram melhoras; 20% das pacientes pioraram sem o adequado repouso; incluindo terapia manual: 20% das pacientes indicaram que suas dores pioraram; medicamentos e massagem: 70% sentiram apenas um alívio temporário.

Boas Notícias

A boa notícia é que o tempo médio para resolver as dores nas costas na gravidez foi de seis meses. Aproximadamente 35% das pacientes continuaram a descrever dores intermitentes com duração de 1 mês e meio após o parto. Na primeira consulta após o parto, apenas 15% das pacientes continuaram a ter dores na parte inferior das costas, não importando quando os sintomas iniciaram durante a gravidez. Portanto, na maioria dos casos, a dor melhora realmente depois do período pós-parto.

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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