Dor nas costas com risco neurológico: o que você precisa saber

14 de julho de 2025 | sem comentário | Categoria(s): Artigos, vertebrata

A dor nas costas com risco neurológico como marcador clínico

A dor nas costas com risco neurológico é uma das grandes preocupações na prática clínica, especialmente quando afeta a região lombar ou cervical. Embora a dor nessa região seja uma queixa comum, nem toda manifestação representa uma emergência. No entanto, quando há sinais de risco neurológico associados à dor nas costas, a atenção médica deve ser imediata.

Identificar precocemente os quadros de dor nas costas com risco neurológico é um dos maiores desafios da neurocirurgia moderna. O atraso no diagnóstico pode comprometer funções motoras, autonômicas e sensoriais de maneira definitiva.

Embora a maioria dos casos de dor lombar ou cervical seja de origem musculoesquelética, autolimitada e benigna, um subgrupo apresenta dor nas costas com características neurológicas importantes, exigindo avaliação especializada imediata principalmente quando há déficits neurológicos progressivos ou disfunção esfincteriana.

Mecanismos fisiopatológicos da dor com risco neurológico

A dor com potencial risco neurológico geralmente decorre de compressão ou lesão de estruturas do sistema nervoso central ou periférico. Entre os principais mecanismos, destacam-se:

  • Compressão radicular (radiculopatias) causada por hérnias discais volumosas, estenose foraminal ou osteófitos.
  • Compressão medular (mielopatia) por estenose espinhal ou tumores.
  • Isquemia medular em casos de dissecção vascular ou compressão arterial.
  • Síndrome da cauda equina com lesão grave das raízes lombossacrais.

A dor passa, assim, de um simples sinal de sobrecarga biomecânica para um marcador de sofrimento neural.

 

Sinais clínicos de alerta: quando a dor sugere risco neurológico?

A avaliação clínica criteriosa é indispensável para identificar os sinais que sugerem risco neurológico. Entre os principais red flags, destacam-se:

  • Déficit motor progressivo: fraqueza em membros inferiores, dificuldade para se levantar ou andar.
  • Alterações sensitivas: dormência, parestesia ou anestesia, especialmente em distribuição radicular.
  • Alterações autonômicas: incontinência urinária ou fecal, disfunção sexual.
  • Claudicação neurogênica: dor ou fraqueza que surge ao caminhar e melhora com repouso.
  • Síndrome da cauda equina: anestesia em sela, perda de reflexos, disfunção esfincteriana.
  • Histórico de câncer ou infecção: possibilidade de metástases ou abscesso epidural.

A presença de qualquer um desses sinais impõe uma investigação imediata e, frequentemente, hospitalização para avaliação neurológica e neurocirúrgica.

 

Diagnóstico diferencial: evitando armadilhas clínicas

Um erro comum é tratar toda dor lombar como benigna. Contudo, algumas condições clínicas simulam lombalgia mecânica, mas escondem riscos neurológicos importantes:

  • Infecção discogênica: dor intensa e contínua, mesmo em repouso, acompanhada de sinais sistêmicos.
  • Metástase óssea: dor noturna, progressiva, resistente a analgesia convencional.
  • Fratura vertebral patológica: em osteoporose ou neoplasia.

Por isso, além da anamnese detalhada e exame físico neurológico completo, é imprescindível lançar mão de exames de imagem nos casos suspeitos.

 

Exames complementares: quando e o que solicitar?

  • Ressonância Magnética (RM): padrão-ouro para avaliação de compressão neural, herniações, estenose, tumores e infecções.
  • Tomografia Computadorizada (TC): útil para fraturas ou análise óssea detalhada.
  • Radiografias: limitadas na avaliação neurológica, mas úteis para instabilidade ou desalinhamento.
  • Exames laboratoriais: importantes quando há suspeita de infecção ou neoplasia.

O tempo é um fator crítico. A demora na realização da RM, por exemplo, pode impactar diretamente no prognóstico funcional do paciente.

 

Manejo terapêutico: conservador ou cirúrgico?

O tratamento da dor lombar ou cervical com risco neurológico depende da etiologia e da gravidade do quadro.

Indicações de tratamento conservador

  • Ausência de déficit neurológico significativo.
  • Dor radicular controlável.
  • Estabilidade estrutural da coluna preservada.

Condutas: analgesia, bloqueios radiculares, fisioterapia.

Indicações de tratamento cirúrgico

  • Déficit neurológico progressivo.
  • Síndrome da cauda equina.
  • Dor intratável com risco funcional.
  • Instabilidade estrutural.

Procedimentos:

  • Microdiscectomia ou discectomia convencional.
  • Laminectomia para descompressão.
  • Artrodese em casos de instabilidade.

A decisão cirúrgica deve sempre considerar o risco-benefício, com foco na prevenção de déficits neurológicos permanentes.

Impacto do tempo na função neurológica

O prognóstico está intimamente relacionado ao tempo decorrido entre o início dos sinais neurológicos e a intervenção terapêutica. Em síndromes compressivas, intervenções precoces (<48 horas) aumentam significativamente as chances de recuperação funcional.

A negligência ou o atraso diagnóstico podem resultar em quadros irreversíveis, como paralisias ou incontinência permanente.

 

O papel do especialista em coluna

O reconhecimento de sinais neurológicos em pacientes com dor nas costas exige elevada acurácia clínica. Mais do que interpretar exames, é fundamental integrar história, exame físico e evolução clínica para definir o risco e indicar a conduta mais segura.

Na prática do especialista em coluna, a dor nunca deve ser banalizada: ela pode ser o primeiro e único sinal de uma patologia neurológica grave.

Na Clínica Vertebrata, contamos com expertise em diagnóstico e tratamento das patologias da coluna que colocam em risco sua função neurológica. Agende sua avaliação e receba um plano terapêutico seguro e personalizado.

Médico neurocirurgião especialista em tratamentos da coluna vertebral, é membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Academia Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Coluna, bem como da North American Spine Society e Spinal Artroplasty Society.


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